A opção abençoada de casar-nos
impõe a necessidade de dividir-nos de maneira equilibrada. O apóstolo Paulo,
ministrando sobre isso, diz que “o solteiro, cuida das coisas do Senhor, em
como agradar ao Senhor, mas o que se casou, cuida das coisas do mundo, em
como agradar a esposa, e assim está dividido...” (I Co 7:32,33). O propósito
destas palavras não é desestimular o casamento, mas alertar para a necessidade
de que o casado se concentre em considerar seu cônjuge.
Esse cuidado sempre foi
relevante, mas me parece que em nossos dias se tornou muito mais. Vivemos na
geração do ativismo, da competição, da ganância. Homens e mulheres são
induzidos a uma luta desenfreada pela prosperidade e trabalham sem limites,
deixando uma lacuna aberta na vida conjugal e na relação com os filhos.
A verdade é que muitos vivem hoje
casados com o trabalho, dedicados quase que de forma exclusiva às suas
carreiras profissionais. E o pior é que, na maioria dos casos vêem nessa
dedicação extrema uma virtude e uma forma de cuidado com suas famílias, quando
se passa justamente o contrário.
Há muitos casamentos que estão
sucumbindo devido à ausência do homem ou da mulher (já que, cada vez mais, as
mulheres assumem o papel de mantenedoras financeiras de seus lares). Muitos
adultérios estão sendo cevados pela distância de um cônjuge que só tem tempo e
atenção para o trabalho.
Costumamos olhar para o caso
entre Davi e Bateseba, culpando apenas os dois por tamanha insanidade. A Urias,
marido dessa que se tornou adúltera, sempre colocamos como homem honrado e
fiel, que como um valente estava cumprindo o seu papel de bom soldado na
guerra. E quando, já com o processo de infidelidade à galope, tendo sido
dispensado do campo de batalha para estar com sua esposa, lemos que esse homem
se recusou, dizendo-se incapaz de deixar seus soldados no front para desfrutar
da intimidade conjugal, vibramos e o colocamos como herói da fé e modelo de
dedicação. Mas, cabe aqui alguns questionamentos que normalmente não têm sido
feitos: esta atitude de Urias não revela um homem de prioridades invertidas,
casado com seu trabalho, amante de sua carreira militar? A vulnerabilidade de
Bateseba não poderia, em parte, se explicar pela postura de um marido que se
preocupa com o desamparo de seus soldados, mas que não tem sensibilidade às
carências afetivas e sexuais de sua mulher?
A Bíblia e a História demonstram
que muitos adultérios (talvez a maior parte deles) se desenham no vácuo da
ausência de um cônjuge que, como Urias, está dedicado a uma causa nobre. Muitos
garotos estão sendo empurrados para o homossexualismo pela distância de pais
que trabalham como loucos para lhes dar conforto e estabilidade. Uma multidão
de meninas está sendo adotada por vadios, marginais e traficantes, pelo simples
fato de que seus pais são muito laboriosos, responsáveis e não têm tempo para
dar-lhes atenção.
Há um espaço sagrado que não pode
ser invadido por nada em nossas vidas: nossa comunhão familiar. Nem mesmo o
ministério ou a “obra de Deus” pode roubar a prioridade dos nossos casamentos e
da criação de nossos filhos. A Palavra nos ensina que, até para jejuar, devemos
considerar a necessidade dos nossos cônjuges e fazê-lo apenas de comum acordo,
“para que ninguém seja tentado pela incontinência” (conf. I Co 7:5). Mais
ainda, o que lemos na Bíblia é que “aquele que não cuida dos seus e
especialmente dos de sua família, tem negado a fé e é pior que um incrédulo” (I
Tm 5:8).
Não podemos repetir a história de
Ló, que para defender anjos, expôs ao mundanismo suas filhas, para depois
colher delas perversão. Na mente desse crente, anjos eram mais sagrados do que
filhos, assim como na de Urias, soldados eram mais importantes e dignos de
fidelidade do que de sua esposa. Não é de se admirar que os frutos colhidos por
esses homens tenham sido tão amargos...
Como fechar estas portas de
desmantelamento familiar? Vamos deixar de trabalhar? Vamos abandonar o
ministério e deixar a obra de Deus às moscas? Não. O que precisamos é de
equilíbrio. Se criarmos e defendermos espaços de tempo para nos relacionarmos em
casa, com qualidade; se guardarmos em família o dia de descanso semanal para
desfrutar juntos de comunhão e busca ao Senhor; se estivermos predispostos a
ouvir o coração de nossos cônjuges e filhos com mais acuidade do que ouvimos os
indicadores financeiros ou a voz dos nossos chefes e patrões; se entendermos
que namorar nossos cônjuges, passear juntos num shopping, rir assistindo uma
comédia e ou simplesmente assentar ao redor da mesa para comer com os de casa é
tão ou mais sagrado do que fazer uma visita, abrir uma célula ou participar de
uma reunião; se assumirmos que nosso toque, nossa declaração de amor e nossa
presença é mais vital do que o dinheiro que nosso suor possa trazer, nossas
casas serão inabaláveis.
(Pr Danilo Figueira)
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